Cena gravada na fazenda do Senhor Wilson em Jaguaraçu MARLIÉRIA - Durante 30 dias, 47 profissionais transitaram entre os municípios de Jaguaraçu e Marliéria, empenhados na gravação de 203 cenas do filme “O Ouro das Sete Cruzes”. A produção regional não conta com nenhum patrocínio, apenas com a contribuição de cada integrante do projeto para custear os R$ 80 mil gastos na produção. O fato é que, se depender do entusiasmo e dedicação dos participantes, a história de muito suspense, drama e romance terá potencial para agradar ao público e à crítica. As últimas seis cenas do longa-metragem ainda serão gravadas. Para isso, o ator Márcio de Paula precisa emagrecer dez quilos para encenar a morte (fome) de seu personagem, o escravo feiticeiro Cambôno. Em contrapartida, o diretor Elizeu Mól já contabiliza 86 horas gravadas, para uma edição que terá, no máximo, duas horas de duração. Para compor o cenário foram criadas 18 peças de cerâmica, muitas velas e artefatos. As bucólicas paisagens dos belíssimos locais usados para o desenrolar da história serão outro ponto forte do filme. As cenas foram gravadas numa fazenda localizada em Jaguaraçu, na Lagoa Silvana, em Marliéria, e na Comunidade da Amora, em Dionísio, local onde começou a lenda que será contada pelo filme. RoteiroTodo o projeto, que ainda não tem data para ser concluído, nasceu de uma conversa de Elizeu Mól com um pioneiro de Dionísio, conhecedor da lenda das sete cruzes, expostas há mais de 100 anos na Comunidade da Amora. Foi a partir desta narrativa que o diretor criou o roteiro do longa. A lenda reza que as sete cruzes simbolizam a morte de sete soldados que foram mortos por bugres, depois que eles carregaram o ouro sabidamente amaldiçoado. O tesouro era tão enfeitiçado que os próprios índios também vieram a falecer, mas antes esconderam o tesouro na floresta. “São muitas versões, pois lendas são reinventadas a cada vez que são contadas, mas criei uma ficção a partir desta impressionante história”, conta o diretor.Muitos moradores que têm conhecimento sobre a fábula do ouro o procuram até hoje, mas no vídeo ela será contada da seguinte maneira: “depois que o ouro foi amaldiçoado pelo feiticeiro Cambôno, quem olhasse ou tocasse no tesouro morreria imediatamente”. Assim, muitos índios morreriam por causa do feitiço, até uma índia descobrir que as mulheres não eram atingidas pela maldição e se transformar em guardiã do ouro. Muitos anos se passam e um casal vai à procura do ouro na fazenda onde está a índia guardiã. O homem encontra o tesouro e morre; já as mulheres, Ruane e Tati, se tornam amigas e, posteriormente, iniciam um relacionamento amoroso. “No conflito final, a cena mais complicada para gravar, cinco personagens se encontram. Ah! O ouro? O feitiço é quebrado e uma pessoa fica com ele, mas os detalhes só poderão ser conferidos no vídeo”, antecipa Elizeu Mól.
Jamille Farath e Patrícia Barros vivem Ruana e Tati, respectivamente, no longa Atores destacam clima de doação e cumplicidade. Nos papéis principais estão oito atores: Jamille Farath, Patrícia Barros, André Auki, Márcio de Paula, Beto de Faria, Rubens Ramos, Torosca Silvestre e Felipe Martins. Como preparador de elenco, Frederico Foroni, conhecido por integrar o longa “Nome Próprio” (ganhador de três Kikitos de Ouro), colaborou com a produção e a escolha do elenco, com a ajuda da assistente Liana Poiani, ambos de São Paulo.A preparação do elenco aconteceu no Teatro Mutirão, no Centro de Marliéria, de 4 a 17 de janeiro, depois de uma prévia seleção dos candidatos a atores. Dos 16 inscritos no Vale do Aço, dois foram escolhidos: Beto e Torosca; os outros participantes da região foram convidados. Com a ajuda da produtora Terra Forte, de São Paulo, houve a seleção nacional, quando 183 atores se inscreverem. Destes, Jamille, Patrícia e André compõem o elenco de “O Ouro das Sete Cruzes”.AtoresJamille Farath iniciou a carreira em 1994 como atriz de teatro amador. Em 1996, trancou a faculdade de Arquitetura e se mudou de Mogi das Cruzes para São Paulo, onde cursou Artes Cênicas. Quando se formou, foi para a Europa para continuar a estudar teatro. No ano passado, participou do curta “A Noite de Samedi”, de Pedro Gandola. “Este é meu primeiro longa. Me inscrevi, fiz dois testes, uma preparação, e fui selecionada. Fazer cinema é completamente diferente de teatro. É uma experiência única e enriquecedora”, afirma a atriz. Já Patrícia Barros, que vive a personagem Tati, começou a carreira aos 15 anos como modelo, e só aos 22 anos foi estudar teatro em São Paulo. Patrícia já produziu dois e atuou em mais de 10 curtas. A peça “O Ensaio sobre a Loucura” também teve a atriz como integrante, mas “O Ouro das Sete Cruzes” é seu primeiro longa. “Já perdi as contas de quantos comerciais de TV, capas de revista e campanhas publicitárias eu fiz, mas sei que atuar em cinema é fantástico. O contato com a população do Vale do Aço transformou minha vida”, garante. André Auki se interessou pelo teatro quando cursava Publicidade. Parou o curso e foi estudar Artes Cênicas. Hoje, o ator ensina teatro, já atuou em mais de 20 peças teatrais e dirige a Cia. Mossoró de Variedades, em São Paulo. Com a Compagnie Dramatique Parnas, de Paris, André ficou um mês em cartaz com o espetáculo “O Retorno ao Deserto”, do dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès. “Agora posso falar que sou um artista completo. Cinema é a arte da paciência, ao contrário do teatro, que é ágil. No vídeo é preciso muita cumplicidade com toda a equipe do projeto. No Vale do Aço vivemos outra vida e aprendemos muito. O público irá se deliciar com a lenda do ouro na Comunidade da Amora, em Dionísio”, antecipa o ator.
Mariza Lemos - O diario do aço http://www.diariodoaco.com.br/noticia.php?cdnoticia=17969